África do Sul

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O território da África do Sul situa-se quase que totalmente ao sul do trópico de Capricórnio, no extremo meridional do continente africano. As 11 línguas oficiais do país são um sinal da grande diversidade da sua população, formada por negros de diferentes etnias (cerca de 70% dos habitantes) e por minorias de brancos e indianos. A África do Sul detém quase 50% da produção industrial do continente e é o maior produtor mundial de ouro. Possui ainda grandes reservas de diamante, cromita, urânio, antimônio, platina e carvão, que respondem por 60% das exportações e por 10% de seu PIB. O turismo é importante fonte de divisas, e as maiores atrações são as reservas de animais selvagens existentes no país. O regime de segregação racial sul-africano (apartheid), abolido há cinco anos, deixou uma herança de desigualdade social entre brancos e negros. O padrão de vida é bastante diferenciado e a criminalidade e a violência política continuam altas entre os negros.

Fatos Históricos
Os europeus chegam à região em 1487, quando o navegador português Bartolomeu Dias contorna o cabo da Boa Esperança. Ponto estratégico na rota comercial para as Índias e habitada por diversos grupos negros (bosquímanos, khoi, xhosas, zulus), a região é povoada por imigrantes holandeses, franceses e alemães no século XVII. Esses colonos brancos (chamados bôeres ou africânderes) se fixam na região e desenvolvem uma língua própria, o africâner. Em 1806, os ingleses tomam a Cidade do Cabo e lutam contra negros e bôeres. Os choques levam os bôeres a emigrar maciçamente para o nordeste (a Grande Jornada, em 1836), onde fundam duas repúblicas independentes, Transvaal e Estado Livre de Orange. A entrada dos britânicos no Transvaal provoca tensão e resulta na Guerra dos Bôeres, que termina com a vitória britânica.

Apartheid
A partir de 1911, a minoria branca, composta de africânderes e descendentes de britânicos, promulga uma série de leis que consolidam seu poder sobre a população majoritariamente negra. A política de segregação racial do apartheid (separação, em africâner) é oficializada em 1948, com a chegada ao poder do Partido Nacional (NP), que domina a política por mais de 40 anos. O apartheid impede o acesso dos negros à propriedade da terra e à participação política e os obriga a viver em zonas residenciais separadas das dos brancos. Casamentos e relações sexuais entre pessoas de raças diferentes tornam-se ilegais. A oposição ao apartheid toma forma na década de 50, quando o Congresso Nacional Africano (CNA), organização negra criada em 1912, lança campanha de desobediência civil. Em 1960, a polícia mata 67 negros que participavam de uma manifestação em Sharpeville, favela situada a 80 km de Johanesburgo. O Massacre de Sharpeville - como fica conhecido - provoca protestos no país e no exterior. Como conseqüência, o CNA é declarado ilegal. Seu líder, Nelson Mandela, é preso em 1962 e condenado à prisão perpétua.

Bantustões
Nos governos dos primeiros-ministros Hendrik Verwoerd (1958 a 1966) e B.J. Voster (1966 a 1978), a política do apartheid agrava-se. Uma série de leis classifica e separa os negros em diversos grupos étnicos e lingüísticos, gerando um processo que cria, em 1971, os bantustões - territórios tribais independentes onde os negros são confinados. Com o fim do império colonial português na África (1975) e a queda do governo de minoria branca na Rodésia, atual Zimbábue (1980), o domínio branco na África do Sul entra em crise. Em 1984, uma revolta popular contra o apartheid leva o governo a decretar a lei marcial. A comunidade internacional reage e a ONU declara sanções à África do Sul como forma de pressão pelo fim da política de segregação racial. Acuado, o presidente Pieter Botha promove reformas, mas mantém os aspectos essenciais do regime. No mundo todo cresce um movimento pela libertação de Mandela. Fim do apartheid-Ocorrem várias mudanças no país com a posse de Frederik de Klerk na Presidência em 1989. Em 1990, Mandela é libertado e o CNA recupera a legalidade. De Klerk revoga leis raciais e inicia o diálogo com o CNA. Sua política, criticada pela direita, é legitimada por um plebiscito só para brancos, realizado em 1992, em que 69% dos votantes se pronunciam pelo fim do apartheid. Entre os negros também há resistência. O Partido da Liberdade Inkatha, organização zulu, disputa com o CNA a representação política dos negros. Seu líder, Mangosuthu Buthelezi, acusa Mandela de traição. O confronto degenera em sangrentos conflitos.

Eleições multirraciais
Em 1993, inconformados com o avanço das reformas, líderes de 21 grupos extremistas brancos fundam a Frente Nacional Africânder (FNA) e ameaçam criar um país independente no Transvaal. Mesmo com essa resistência, De Klerk convoca para 1994 as primeiras eleições multirraciais para um governo de transição. Em outubro de 1993, De Klerk e Mandela ganham o Prêmio Nobel da Paz. Em abril de 1994, Nelson Mandela é eleito presidente pelo CNA. O partido obtém 62,6% dos votos, conquistando 252 das 400 cadeiras da Assembléia Nacional. O CNA junta-se ao NP e forma um governo de unidade nacional. A aliança possibilita o primeiro governo multirracial do país. O Parlamento aprova, em novembro, a Lei de Direitos sobre a Terra, restituindo propriedades às famílias negras atingidas pela lei de 1913, que destinara 87% do território sul-africano à minoria branca. Em 1995 é criada a Comissão de Reconciliação e Verdade (CRV), presidida pelo arcebispo anglicano Desmond Tutu, com poderes para investigar, esclarecer, julgar e anistiar crimes contra os direitos humanos praticados na vigência do apartheid.

Em junho de 1996 ocorre ampla mudança na equipe de governo: todos os ministros do NP são substituídos por simpatizantes do CNA em conseqüência da retirada do partido de De Klerk do governo. A decisão do NP foi motivada pelo fato de o partido discordar de alguns pontos da nova Constituição, em vigor desde 1997. Comissão de Reconciliação e Verdade-A CRV recebe até maio de 1997 cerca de 8 mil confissões de crimes contra os direitos humanos, entre elas as de cinco policiais brancos que assumiram o assassinato do ativista negro Steven Biko, em 1977. Em novembro, Winnie Mandela, ex-mulher do presidente, depõe perante a comissão. Ela e seu grupo de guarda-costas são acusados de violação dos direitos humanos e de pelo menos seis assassinatos entre 1988 e 1992. Em dezembro, Nelson Mandela renuncia à liderança do CNA e é substituído por Thabo Mbeki. Mandela anuncia que não será candidato à reeleição em 1999 e lança Mbeki para sua sucessão na Presidência do país. Em julho de 1998, Mandela se casa com Graça Machel, viúva do líder moçambicano Samora Machel. Em agosto, o ex-presidente branco Pieter Botha é condenado a um ano de prisão por se negar a depor na CRV. Após três anos de investigações, a CRV encerra seus trabalhos e divulga o relatório final, que acusa de violação dos direitos humanos tanto as autoridades do regime racista sul-africano como as organizações que lutavam contra o apartheid.

Dados Gerais
Nome oficial: República da África do Sul (Republic of South Africa/Republiek van Suid-Afrika)
Capital: Cidade do Cabo (legislativa), Pretória (administrativa), Bloemfontein (judiciária)
Nacionalidade: sul-africana
Idioma: africâner, inglês, sepédi, sessoto, setsuana (oficiais, entre outros)
Religião: cristianismo 66,4% (independentes reformistas católicos, metodistas, anglicanos, luteranos), hinduísmo 1,3%, islamismo 1,1%, judaísmo 0,2%, sem filiação 1,2%, outras 29,8% (1991)
Moeda: rand
Cotação para 1 US$: 6,00 (jul./1998)

Geografia
Localização: extremo sul da África
Características: litoral estreito, planalto (maior parte), limitado por escarpas íngremes (O), montes Drakensberg e baixos platôs
Clima: tropical (maior parte); mediterrâneo extremo sul; árido tropical (NO); de montanha (O)
Área: 1.223.201 km² População: 44,3 milhões (1998)
Composição étnica: grupos étnicos autóctones 70% (zulus 20,5%, chosas 18%, pedis 9%, sotos 7%, tsuanas 6%, tsongas 3,5%, suazis 2%, nedebeles 2%, vendas 2%), europeus 12% (holandeses, alemães, franceses, ingleses), eurafricanos 13%, indianos 3%, outros 2% (1996)
Cidades principais: Cidade do Cabo (2.350.157),Johanesburgo (1.916.063), Durban (1.137.378), Pretória (1.080.187), Port Elizabeth (853.204) (1991)

Governo
República presidencialista.
Divisão administrativa: 9 províncias.
Chefe de Estado e de governo: presidente Nelson Rolihlahla Mandela (CNA) (desde 1994).
Principais partidos: Congresso Nacional Africano (CNA), Nacional (NP), da Liberdade Inkatha (IFP).
Legislativo: bicameral - Assembléia Nacional, com 350 a 400 membros eleitos por voto direto; Conselho Nacional das Províncias, com 90 membros (6 delegados permanentes e 4 especiais de cada uma das nove províncias).
Constituição em vigor: 1997.

Economia
Agricultura: milho (8,6 milhões de t), cana-de-açúcar (22,5 milhões de t), frutas (4,4 milhões de t) (1997)
Pecuária: bovinos (13,7 milhões), aves (59 milhões), suínos (1,6 milhão), caprinos (6,6 milhões), ovinos (29,2 mil), eqüinos (454 mil) (1997)
Pesca: 521,1 mil t (1995)
Mineração: ouro (498 t), minério de ferro (30,9 milhões de t), diamante (9,9 milhões de quilates), carvão (207 milhões de t) (1996)
Indústria: química, petroquímica, carvão, alimentícia, equipamentos de transporte, siderúrgica (aço, ferro), máquinas
Parceiros comerciais: EUA, Reino Unido, Japão, Alemanha

Relações Exteriores
Organizações: Banco Mundial, Comunidade Britânica, FMI, OMC, ONU, OUA, SADC
Embaixada: SES - Av. das Nações, quadra 801, lote 6, CEP 70406-900, Brasília, DF, tel. (061) 312-9500, fax (061) 322-8491

 
 
Fonte: Almanaque Abril CD-ROM 1999 - 6.ed